Desafio político x golpe militar

exército chinês

Um golpe militar contra uma ditadura pode parecer relativamente uma das maneiras mais simples e rápidas de remover um regime particularmente repugnante.1

A frase introdutória da exposição feita por Gene Sharp em sua análise dos efeitos doe um golpe militar, ilustra bem porque no Brasil de nossos dias tantos apelam para a intervenção militar. O desespero, mais uma vez, move as pessoas a pedir por algo que num passado mais ou menos remoto, nos salvou da ditadura comunista, uma situação para onde as ações do partido do governo parece, a cada dia que passa, mais bem-sucedido em nos empurrar.

As pessoas preocupadas com a estratégia a ser seguida pelos movimentos de oposição ao radicalismo comuno-anarquista do governo federal têm sido enfaticamente contra levantar esta bandeira. Primariamente, porque fere o princípio democrático do estado de direito. Entretanto, Sharp, no ensaio citado, nos oferece mais alguns argumentos que ajudam a entender porque, em relação ao desafio político, esta alternativa é desvantajosa.

Os que apelam pela intervenção militar esperam que ocorra a seguinte cadeia e eventos:

  1. os militares derrubam a o governo em processo de dar o golpe comunista;
  2. estabelecem em seu lugar um governo provisório que visa livrar o Estado da infiltração perniciosa promovida em todos os níveis pelo governo deposto;
  3. passado um período razoável (esperam que seja apenas uns poucos dias – 30 ou 60), convocam eleições livres com uma nova estrutura partidária e novos candidatos; e,
  4. a democracia triunfa e todos viverão felizes para sempre (ou até uma nova ressurreição do comunismo que, como um zumbi, sempre volta em busca de mais carne humana para devorar).

Bem, no país de D. Baratinha, aquela que ‘tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha’ – tinha dinheiro na caixinha, não tem mais, porque o PT roubou tudo – o país das Maravilhas, esta estória até pode acontecer, mas no mundo real é de difícil reprodução. É quanto a isto que Gene Sharp alerta, quando fala dos riscos de um golpe militar:

O governo “provisório”, que substituirá o aparelho atual por outras pessoas, com muita probabilidade substituirá por outros grupos os que estão hoje no poder. Nada garante que esses novos senhores do poder abrirão mão dele quando conseguirem assumir o seu controle. Em alguns casos, os novos detentores do poder poderão ser mais duros do que os antigos ditadores.

Em resumo, uma mudança feita nesse nível e com recurso de forças militares é uma “caixa preta” da qual ninguém pode prever as consequências.

Teoricamente, esse grupo poderia ser mais suave em seu comportamento e mais aberto de forma limitada a reformas democráticas. Mas, é mais provável que aconteça o contrário.

Depois de consolidar sua posição, a nova camarilha pode vir a ser mais cruel e mais ambiciosa que a antiga. Por conseguinte, a nova camarilha – em quem foram depositadas as esperanças – será capaz de fazer o que quiser sem se preocupar com a democracia ou direitos humanos. Essa não é uma resposta aceitável para o problema da ditadura. 2

Um pouco de história. A contrarrevolução de 1964, começou com a expectativa de reestabelecimento “em breve” da democracia. Durou 20 anos. Ocorreram golpes dentro do contragolpe que, não só permitiram 20 anos de regime de exceção, como levaram ao total distanciamento e à apatia da população civil em relação à política, abrindo as portas do país para os teóricos gramcistas dominarem setores vitais de formação da opinião pública, como sejam: as universidades, a mídia, as artes e, até mesmo, as religiões católica e evangélicas.

A matéria indicada a seguir, acrescenta outras justificativas de caráter estratégico por quê o pedido de intervenção militar pode ser um “tiro no pé” da oposição brasileira às esquerdas.

A ligação do PT com a democracia e o que devemos aprender com isso


1. SHARP, Gene. Da Ditadura à Democracia. Uma estrutura conceptual para a libertação . Tradução: FILARDI, José a. S. 4ª Edição. São Paulo: pg. 9. 2010. ISBN 1-880813-09-2.

2. Op. cit. pg. 9.

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